SAUDAÇÕES A TODOS

DENTRO DO MEU RANCHINHO DE SAPÉ, SÓ HÁ DE ENTRAR OS GRANDES AMIGOS E SEMPRE HAVERÁ DE TER UM BOM CAFEZINHO E UM NACO DE BISCOITO DE POLVILHO. UMA CADEIRA COM ASSENTO DE TABÔA TRANÇADA, UMA MESA COM LASCAS DE JATOBÁ, UM BULE DE CAFÉ COM UM PAR DE XÍCARAS ESMALTADAS E UM BOM CASO PRÁ PROSEAR.





VEM PRA CÁ. SENTA COMIGO E VAMOS VIAJAR NO TEMPO...







quinta-feira, 9 de setembro de 2010

BIENAL DE EMOÇÕES


A van estava parada defronte ao Largo do Pará em Campinas. Todos estavam ansiosos para tomar seus lugares para visitar no Parque Anhembi a XXI Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Pessoas estranhas se entreolhavam a buscar no outro um particular ou um motivo para iniciar uma conversa. O condutor seguiu em movimento cumprindo o seu papel. A viagem foi curta, mas com tempo suficiente para cumprir uma relação de amizade que se tornou forte na medida em que os objetivos em comum foram se tornando concretos em frases rápidas de trocas de endereços eletrônicos, informações, poesias, livros e sonhos.
O saguão do parque mostrava painéis com nomes de grandes editoras, escritores famosos, imortais e grande quantidade de títulos desfilavam aos nossos olhos. A cada frase escrita nos levava a um passeio diferente no tempo e no espaço: contos, poesias, receitas culinárias, auto-ajuda, dietas, buscas, encontros, como fazer isto e aquilo.
O Sarau da Silvia, para o qual estávamos convidados começaria às oito horas da noite. Estávamos com tempo disponível para vasculhar o espaço todo. Um grande estande nos chamou a atenção pela sua estrutura e pelo nome que ostentava em sua frente: MELHORAMENTOS. Logo que entramos, vimos um senhor que pelos seus cabelos brancos, aparentava uns oitenta anos, a remexer nas prateleiras de livros de receitas na sessão de culinária.
Aquele homem nos chamou a atenção: além da sua idade avançada, mas também por estar portando uma tala de gesso no antebraço direito o que imobilizara este membro através de uma tipóia presa ao pescoço. Não resistimos e fomos logo fazendo um contato para iniciar uma conversa. Ele nos disse que estava olhando os livros de receitas, mas que estes livros tinham muitos ingredientes sofisticados. Disse ter trabalhado num restaurante quando ainda era moço e que naquele tempo se fazia os pratos com temperos simples comprados no mercado municipal. Hoje são tantos nomes estranhos que (...). Agora ele estava aposentado; há dez anos ensinara dança num clube de São Paulo do qual se orgulha muito e até hoje dança nos bailões da terceira idade.
Falou-nos do seu tempo de menino, da liberdade de brinquedos, do respeito das pessoas e das diferenças sociais. Relembrou as festas da juventude, de suas namoradas e da sua virilidade; dos passeios com amigos e das notas na escola. Criticou os governantes, a política e as guerras da infância. Relatou com muita saudade de sua amada e companheira, mostrou-nos como foi sublime ter sua missão cumprida.
A conversa rendeu quase uma hora de histórias. Talvez um livro completo. No final das contas demos um grande abraço naquele homem desconhecido e o beijamos em sua face áspera com a barba por fazer, tiramos uma fotografia e demos a ele um livro de nossa autoria que o deixou com os olhos umedecidos e a voz embargada de alegria e agradecimento.
Em toda Bienal encontramos livros de todos os tipos, escritos em diversas línguas, diversas formas e tamanhos. Mas ninguém, temos certeza, ninguém encontrou o livro mais sofisticado que nós. Encontramos um livro vivo, que trazia em sua capa o pó das viagens de vida, e nas páginas amareladas as orelhas causadas pelas repetidas vezes que as folhearam em busca de ensinamentos e experiências. Um livro que não precisava de olhos para ver, nem braços para segurar, apenas ouvidos para ouvir e muitas emoções para sentir. Trouxemos conosco algumas páginas desse livro em nosso pensamento e que serão lidas todas as vezes que encontrarmos alguém que queira ouvir esta história.

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