SAUDAÇÕES A TODOS

DENTRO DO MEU RANCHINHO DE SAPÉ, SÓ HÁ DE ENTRAR OS GRANDES AMIGOS E SEMPRE HAVERÁ DE TER UM BOM CAFEZINHO E UM NACO DE BISCOITO DE POLVILHO. UMA CADEIRA COM ASSENTO DE TABÔA TRANÇADA, UMA MESA COM LASCAS DE JATOBÁ, UM BULE DE CAFÉ COM UM PAR DE XÍCARAS ESMALTADAS E UM BOM CASO PRÁ PROSEAR.





VEM PRA CÁ. SENTA COMIGO E VAMOS VIAJAR NO TEMPO...







quarta-feira, 10 de agosto de 2011

VIDA CIRÚRGICA - O COMEÇO DO MEIO


Era meia noite de uma quarta-feira de clima ameno e a paz reinava em nossa casa.  De repente, uma dor abdominal, que surgira no começo da tarde e insistia em corroer as minhas entranhas noite adentro, deixou-me muito aflito. Direto para a emergência do hospital Centro Médico, uma consulta. A minha querida companheira, que acabara de chegar do trabalho, foi quem me acompanhou em mais esta etapa. A sua calma, como sempre, tentava me fazer tranquilo, mas as dores aumentavam e eu não conseguia me segurar.
- Precisamos investigar – disse o médico que estava de plantão naquele turno. – Vamos fazer exames de sangue, urina, radiografia, ultra-sonografia e tomografia computadorizada.
Tudo foi feito às pressas para saber o porquê do meu intestino não estar fazendo seu curso completo, ficar obstruído e trazer tanto desconforto ao organismo todo.
- Quantos anos o senhor tem? Já fez outras cirurgias? Alimenta-se bem? Fuma? Usa bebida alcoólica? Infelizmente vamos ter de internar para uma intervenção cirúrgica. O senhor sabe dos riscos? Quem está acompanhando o senhor? Tem que ser imediatamente. Vamos encaminhá-lo para o setor, o senhor pode ir sozinho?
 - Quatrocentos e dez. Já está reservado para o senhor. Pode aguardar que a moça vem lhe buscar.
As palavras iam sendo assumidas, as ordens cumpridas parecendo que eram rotinas conhecidas que levavam a um destino também conhecido.
Ao meu lado, a minha grande companheira disfarçava o seu choro para me deixar mais confiante. A nossa tristeza refletia outras situações já passadas no mesmo hospital. No entanto, agora levavam a riscos maiores e as expectativas podiam não ser muito boas.
Foram seis dias de ações involuntárias, toleradas por uma força interior que superou todas as expectativas. Agora sentado no sofá da sala, eu vejo o ambiente e digo: não parece que aconteceu tudo.  Meus amigos se revezam a me visitar, cada um de sua forma trazendo um conforto a mais. O telefone toca e mais uma resposta: minha missão não terminou, eu ainda tenho muitas alegrias a viver e muitas ações a fazer.
Eu ainda preciso achar um jeito de mostrar ao mundo que a maneira certa de viver é amando. Amar a cada momento de vida, a cada situação de alegria, a cada filho, a cada amigo, a cada almoço, a cada lanche, a cada poesia, a cada crônica escrita, a cada livro lido, a cada história contada.
Eu quero deste meu jeito simples de viver poder mostrar que a paz só existe se for acompanhada de um bom relacionamento. Relacionar-se bem com as pessoas é ser sincero o bastante para agradar e ser fiel o bastante para conquistar.
Eu sei que ainda tenho muita coisa a fazer: quem sabe conhecer um pouco mais sobre Deus, um pouco mais sobre a natureza, um pouco mais sobre os animais, um pouco mais sobre os homens. Tudo sobre mim. Sei que ainda estou no começo do meio e muito longe do fim.
Tenho plena convicção que a minha vida ainda está plena e ativa. Se eu não posso cavucar a terra para plantar a semente, eu posso com certeza aspergir água nas plantas já crescidas.  Se eu não posso colher e transportar os frutos, eu posso com certeza reunir as pessoas para o banquete.
E quero ainda conhecer um mundo mais justo. Que as pessoas olhem umas para as outras com o desejo de que sejam felizes.  Que as pessoas se vejam no outro e possam compartilhar conhecimento, espaço, carinho, afeição, aconchego e amor. Que elas, em cada degrau do seu poder e em cada piso de sua subordinação, possam ser justas nas ordens e inteligentes no cumprimento, justas nas ações  e coerentes na aceitação, justas com a natureza e inteligentes com a vida.

Paulo Carvalho de Freitas
Agosto de 2011

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